Boa tarde.
Queria pedir o favor se podem lançar outra edição deste livro. Não consigo encontrar em lado nenhum á venda.
Grata pela atenção
Paula Silva
tlm 919658980
Data Publicação: 30 de Outubro de 2012
Diálogo com a Morte
(Marie de Hennezel, 2001)
O Diálogo com a Morte foi um livro que o meu avô me emprestou, já há bastante tempo, mas que ainda não tinha tido a curiosidade de o ler, visto considerar o título bastante “pesado”. Contudo, a partir de uma conversa recente com ele, acabou por surgir o tema do livro, onde o meu avô me falou brevemente do seu conteúdo: trata-se de um livro escrito por uma psicóloga parisiense, Marie de Hennezel, que relata a sua experiência de 7 anos junto de doentes terminais. A autora trabalha numa Unidade de Cuidados Paliativos no Hospital Universitário de Paris.
Assim sendo, debrucei-me numa leitura incessante que me deixou comovida e com enorme vontade de partilhar.
“Os que vão morrer ensinam-nos a viver “- é esta a mensagem de Marie De Hennezel, ou antes, a razão que a levou a escrever este livro.
Resumo do livro:
Este livro não se trata de uma história, mas de um conjunto de histórias singulares de doentes terminais que, através de uma assistência humanista prestada por todos os técnicos do Hospital Universitário de Paris, acabam por aprender que muitas coisas ainda podem ser vividas. Aprendem que o momento da morte a cada um diz respeito, que só a própria pessoa consegue sentir esse momento. As passagens do livro traduzem a experiência da autora naquele local, que fala, quer da forma como presta assistência àqueles, quer das suas aprendizagens e pensamentos circundantes ao tema da morte.
Optei por fazer uma apresentação breve de cada doente e deixar algumas passagens do livro:
Bernard. Homem de 40 anos, a morrer de sida. Descobriu o diagnóstico há 18 meses. “A doença afundou-lhe os traços e descarnou-lhe o corpo, mas conserva sempre a mesma juventude e a mesma beleza regular no seu rosto.” Uma beleza frágil e vulnerável. A autora interrompeu as suas férias para fazer uma vigília à sua cabeceira, pois ele sentia que ia morrer em breve. “Assim passei o dia 15 de Agosto com ele, num clima de verdade e ternura que atualmente faz parte do tesouro de recordações felizes que trago dentro do coração” (p.15).
Bernard ofereceu uma pulseira de prata velha a Marie, dizendo-lhe: “É altura de dar os meus objetos preferidos a todos aqueles que amo”.
Bernard quando entrou no hospital tentou suicidar-se, sabia que ia morrer e não queria continuar a estar vivo. A psicóloga disse-lhe "atravessamos esses momentos terríveis, e descobrimos então em nós forças insuspeitadas.” Bernard mais tarde ficou em grande forma: “Tenho vontade de viver”.
Marie: “Sabes, Bernard, és uma das pessoas que mais coisas me ensinaram. Vi-te a viver e combater contra esta doença, vi como te transformavas. Mostraste-me que podemos olhar a nossa morte de frente e continuar a viver, dando sentido à vida.”
Bernard: “Compreendes, agora pus tudo em ordem, e penso que estou em paz com toda a gente, posso continuar a viver, ou morrer de um momento para o outro, estou pronto.” (p.19)
Patrícia. Jovem com cancro generalizado no útero, que já não se pode levantar. Tem o incondicional apoio do marido, Pierre, ao qual o médico lhe transmitiu, aquando o internamento da mesma: “cuidarão de Patrícia até ao fim, terá o conforto assegurado, impedi-la-ão de sofrer, ajudá-la-ão a viver os seus derradeiros instantes como quiser vivê-los.” (p.22). O quarto de Patrícia foi forrado de fotografias das ilhas Seychelles, flores exóticas e cestos de fruta. “Patrícia está mais bonita e florescente do que nunca, tendo, todavia, um clarão de tristeza no fundo dos olhos.” (p.47). Morreu na manhã de Natal, após três dias em coma. Nas palavras da autora: “Sinto a satisfação de ter podido ajudá-la nos momentos difíceis, como no dia em que se convenceu que não tinha cura. Sinto gratidão em relação a ela, pois mostrou-me como a podia amparar, mostrou-me que se pode conservar a alegria de viver e a jovialidade, apesar do sofrimento de nos vermos diminuídos.”
Xavier. Amigo de Marie que morreu de sida, disse um ano antes da sua morte: “Não tenho medo de morrer, mas não queria morrer sem estar pronto.” Pediu tempo para se preparar para a sua morte, e a vida deu-lhe um ano.
Marcelle. Mulher de 70 anos com cancro do útero. Chegou em estado de confusão mental e de enorme ansiedade. A filha acompanha-a. Depois de ter a confirmação de que vai morrer, expressa as suas últimas vontades: “Quer ver todos os filhos e netos, transmitir as últimas instruções e despedir-se.” (p.33). O seu desejo é concebido.
Dominique. Mulher magra, aposentada da Educação Nacional. Reclama da morte. “Façam alguma coisa, por favor, não posso ficar neste estado, pregada à cama à espera da morte, não aguento mais!” (p.40). Marie questiona Dominique se há alguma coisa, alguma pessoa, que a ligue à vida, ela afirma, mais tarde, que tem uma irmã que já não vê há trinta anos. “Não, não quero voltar a vê-la, mas gostava de poder dizer-lhe que a perdoei.” (p.46). Escreveu-lhe uma carta e enviou-lhe. A irmã foi lá vê-la, apesar de na carta dizer “Não venhas ver-me!”. Após este acontecimento Dominique pressentiu que ia morrer em breve, agradeceu a Marie e proferiu: “Agora, está tudo bem. Estou em paz.” (p.64).
Jacques. Homem, antigo piloto de caça, bom contador de histórias. Pede a eutanásia. Fala imenso das filhas de um primeiro casamento, deviam ter uns 30 anos e, atualmente, não sabia mais nada delas. Gostava de as voltar a ver. Encontraram-nas e levaram-nas à cabeceira. “Uma das filhas é freira, a outra é enfermeira, e é na presença dela, doce e calma, que ele está a extinguir-se.” (p.43).
Marie-France. Mulher que tem metade do rosto oculto por um penso volumoso. Pede para morrer e o que ela pede é poder dizer esse desejo, e ser ouvida. Com o tempo acabou por mudar o seu discurso, dizendo: “Foi preciso chegar aonde cheguei para descobrir que a bondade existe.” (p.73). “o mais extraordinário é que, por minha vez, sinto vontade de ser boa (…) digo cá para mim que poderia oferecer a minha morte, e esta longa e dolorosa expetativa, para o bem de alguém.” (p.75). Fala no seu primo autista, sente que deve haver uma solidariedade invisível, para que todo o seu sofrimento não seja em vão.
Charlotte. 30 anos, sofre de cancro da mama, com metástases ósseas muito dolorosas. Prematuramente envelhecida, sente vergonha do seu corpo exageradamente magro. Precisa de ser reconhecida e amada: “Ela tem a sensação de cheirar a morte, tem medo que a rejeitem, de que a desprezem como a uma coisa suja. Temos o dever de ajudá-la a ver-se de outra maneira, a sentir-se aceite tal como é.” (p.67). A sensação de vergonha foi diminuindo, com forte contribuição pela forma como o pessoal toma conta dela.
Charlotte diz: “Sinto que tenho ainda muito amor para dar.”
Marie responde: “É isso que te vai ajudar, minha querida, não podes já fazer grande coisa na tua cama, mas manifestar esse amor que sentes, isso podes.” (p.74)
Paul. Jovem forte e bem constituído. Não pára de pedir para que lhe acelerem o fim da vida. O seu companheiro morreu na mesma unidade há um ano. Afirma que antes de entrar no serviço pôs tudo em ordem e está pronto para a partida. Falou dos pais que estão instalados na casa dele e o acompanham no hospital: “Já não os suporto! Nunca disse aos meus pais que era homossexual! Nunca souberam nada da minha vida, não sabem que eu vivia com alguém que aqui morreu no ano passado. Não tenho nada para lhes dizer, desde há muito, e aqui estão eles agora, todos os dias; sentam-se e olham para mim, com um ar triste, não trocamos uma palavra, e as horas passam, pesadas, insuportáveis, finjo dormir, não aguento mais!” (p.69). Paul pede que Marie fale com os seus pais sobre a homossexualidade dele, a qual se presta de boa vontade, pois trata-se de desimpedir as vias da comunicação. O pai após ter recebido essa informação afirma que respeita mas não quer falar disso com o filho. Paul sente imensa cólera. Não consegue falar sobre isso com os pais, porém, acaba por desabafar com uma prima: “partilhar a sua intimidade, dar uma forma à sua vida.” (p.110). Agora, encontra-se em paz, muito mais calmo.
Maria. Linfoma, perna esquerda amputada. Tem um filho de 12 anos. Recebe morfina para dormir e refugia-se no sono. Sofre por deixar o seu filho, Pedro, que tenta ocultar a tristeza e mostra-se muito corajoso e terno: “Mãezinha, mais um pouco de coragem!”. Maria pede à psicóloga que transmita ao seu filho o que ela gostaria de lhe falar, mas não consegue: “Gostaria de lhe dizer que vou partir, mas que cá estarei sempre para o proteger.”. Maria morre nessa noite e a psicóloga transmite a mensagem da mãe ao filho.
Danièle. Jovem com doença de Charcot, suspeita de esclerose lateral amiotrófica, trata-se de uma degenerescência neuromuscular, que a conduziu a uma paralisia quase total. Tem dois filhos adolescentes e imensos amigos. Demonstra muita força de caráter. Mexe o indicador esquerdo e consegue comunicar através de um computador. Diz “sim” fechando os olhos e “não” conservando-os abertos. Necessita de cuidados especiais, de alguém que permaneça sempre ao seu lado. Palavras escritas de Danièle à psicóloga: “Criei a minha doença para responder ao abandono. Grande esperteza! Agora tenho a prova de que me amam, quero viver, mas o meu ‘vírus’ não me ouve!” (p.91).
A jovem acredita na hipótese da cura da sua doença. Nas palavras da psicóloga, dirigida a uma amiga de Danièle: “Não se pode viver sem esperança, deixemo-la descobrir por si própria, no seu ritmo, pouco a pouco, o que precisa saber. Esta convicção de cura talvez seja necessária ao seu percurso.” (p.93).
Daniéle reflete muito sobre o sentido da sua doença, esta jovem tinha desejado receber muito amor, e agora esse amor é-lhe dado em abundância. “Como viver na sua paralisia, senão movendo-se interiormente?” (p.118).
Um jovem assistente, familiarizado com a medicina chinesa e a energia vital, acompanha-a e incita-a a exercitar a alma. São sentidos progressos em Danièle, o que põe em causa o seu diagnóstico. Contudo, a jovem acaba por piorar, começando a apresentar dificuldades respiratórias. O importante, é que se sente amada. Ela proferiu no dia anterior à sua morte: “A felicidade chega sem se fazer anunciar, até e mesmo quando a doença nos ataca.” (p.157).
Dimitri. Homem de idade, engenheiro, com cancro do músculo cardíaco, com metástases. Sente falta da natureza, do espaço exterior. É uma pessoa complexa, tanto mostra ser um homem desarmante de sinceridade e, bastante vulnerável, como um homem que veste a personagem de “rei-macho” entre as mulheres. Conserva uma esperança de recuperação. Acaba por aperceber-se, através da interpretação de um sonho que revela, que precisa de despir a armadura e ser, finalmente, verdadeiro. Dimitri agradece todos os cuidados que lhe prestam e descobre uma dimensão de humanidade que não julgava possível. Entra num coma-vigília durante dois dias, mas acorda inesperadamente. Bem disposto, faz projetos futuros, ou seja ocupa-se com pensamentos de vida.
“Aquilo que Dimitri procurou em toda a sua existência através de múltiplos amores não é senão a revelação da sua própria bondade, que ele acaba de descobrir no limiar da morte.” (p.124). Morreu no Domingo de Páscoa.
Valérie. Jovem de 23 anos, a morrer de sida. Está em coma. “O coma é um estado estranho. Pouca coisa sabemos sobre ele, mas as pessoas que saírem desse estado dizem que se ouve o que se diz à nossa volta, e que se sente a qualidade afetiva das palavras e dos gestos.” (p.162). Morreu após os pais dizerem à sua volta que a amavam.
Christine. 30 anos, sofre de um cancro generalizado no útero. Por vezes sente pânico e grita, noutras, mostra-se serena e dá provas de uma maturidade surpreendente. Fala abertamente da sua morte e preocupa-se com o futuro do noivo.
Homem de 70 anos. Cancro dos pulmões, com metástases ósseas. Sofre de fortes dores. Manifesta forte reação emocional quando é acariciado pela psicóloga, pois fá-lo lembrar da sua mãe, que nunca o amou, nunca desejou ter aquele filho. Este homem encontra-se na cama em posição fetal.
Marie também presta apoio, três vezes por semana, aos doentes do Hospital Notre-Dame-du-Bon-Secours, “unidade de cuidados sida”, hospital onde se presta uma medicina humana.
Patrick. Jovem, morreu-lhe o amigo há dois anos, do mesmo mal. É desenhador de jóias. Sente-se culpado pela morte de Bernard, o seu amigo que morreu sem ele se aperceber da sua morte, sem aceitá-la. “Não fiz nada pela sua morte!” (p.82). Regressa a casa, com a ajuda de um auxiliar ao domicílio. Elaborou dois castiçais em forma de anjos, que apelidou de “Amor” e “Esperança”. Mais tarde, volta ao hospital, pois já não consegue levantar-se. Patrick começa a sentir que vai morrer e agradece cada dia que passa por ainda estar vivo.
Agradece todo o trabalho que lhe é prestado pelas enfermeiras: “O mundo sempre lhe pareceu cruel e selvagem, e agora, em vésperas de morrer, descobre que existem seres humanos que gostam de praticar o bem à sua volta, que sabem auxiliar sem dar a impressão de estarem a assistir a um inválido.” (p.115). Por isso, sorri-lhes. Morreu, ao lado dos pais e do irmão, envolto num grande carinho.
Eis as palavras de um menino que morre de leucemia, quando foi inquirido sobre o que tem mais necessidade e o que a morte significa para ele: “Tenho necessidade de que estejam comigo, como se eu não estivesse doente. Que se riam, que se divirtam comigo, que sejam naturais! Sei que estou na terra por um tempo limitado, para aprender alguma coisa. Quando tiver aprendido o que cá me trouxe, partirei. Mas, no meu cérebro, não consigo imaginar que a vida se acabe!”
Reflexão crítica:
O livro é, do princípio ao fim, dotado de uma envolvência e emotividade esplêndidas. Trata-se de uma lição de vida, onde é apresentado o testemunho da mais profunda das experiências humanas. Fiquei sensibilizada e, no final da leitura, fez-me realmente acreditar naquilo que é dito logo no início: “Morrer não é, como tão frequentemente supomos, um tempo absurdo, desprovido de sentido.” A autora consegue levar a cabo aquilo a que se propõe: “mostrar o quanto o tempo que precede a morte pode ser simultaneamente o de uma realização da pessoa e da transformação do que a rodeia.”
Pautado de memórias, é um livro que foca essencialmente a transmissão de mensagens de esperança e de força de viver. É um bom livro para aquelas pessoas que adotam formas de se lamentar para justificar o mal nas suas vidas. Após esta leitura, tais pessoas, nem que fosse por uma vez, seriam incitadas a olhar ao seu redor e verificar que aqueles que mais razões têm para chorar são os que lhes acolheriam as lágrimas.
Tópicos de exploração:
Questões sobre a morte
“Como vamos morrer? Vivemos num mundo aterrado por esta interrogação, e que lhe vira as costas”.
O que é a morte?
A autora afirma que “a morte pode fazer que uma pessoa se torne naquilo para que foi chamada a ser; ela é, talvez, no pleno sentido da palavra, uma realização.” (prefácio). Hennezel, tal como todos os outros mortais, tem a certeza que um dia vai morrer, e não sabe quando, nem como. Interroga-se igualmente sobre as questões da morte, não a encarando como algo vergonhoso, horrível e insuportável, como tantos de nós a encara.
Para ela, a morte é “o momento culminante da nossa vida, o seu coroamento, o que lhe confere sentido e valor.” (p.11). Ela procura “acabar com o tabu sobre a morte, restituir-lhe o seu lugar no coração da nossa vida” (p.29).
Há uma passagem no livro, onde uma doente hospitalizada, Marcelle, define a morte da seguinte forma: “A morte é como um barco que se afasta no horizonte. Há um momento em que desaparece. Mas não é por não o vermos que ele deixa de existir”. (p.65).
Outra doente, Charlotte, manifesta um enorme medo de morrer (“não sei como é que se morre. Por favor, ajuda-me!”). A psicóloga, Marie, que também não sabe como se morre, responde da seguinte forma: “Parece que é mais fácil do que se imagina. Dir-se-ia que acontece naturalmente. Talvez haja algo em nós que o saiba.” (p.74).
Freud (1915), em “Considerações atuais sobre a guerra e a morte”, faz o seguinte comentário: “Cada um de nós deve à natureza uma morte e tem de estar preparado para saldar a dívida, em suma, a morte é natural, incontestável e inevitável. Mas, na realidade, agimos como se as coisas fossem diferentes. Pomos a morte de lado. Eliminamos a morte da vida” (p. 230). Freud acredita que há, no humano, uma exigência de imortalidade. Como, então, seria possível se preparar para a morte? A resposta de Freud parece redutora, ele diz-nos: devemos pensar quotidianamente na própria morte.
Por outras palavras, devemos ter consciência da mortalidade.
[Fonte bibliográfica: Freud, S. (1915). Considerações atuais sobre a guerra e a morte. In: Obras completas, v. 12 (Trad. de Paulo César de Souza, 2010). São Paulo: Companhia das Letras.]
Quis anotar estas frases do livro, que achei que estavam carregadas de um significado muito profundo:
“Só a morte morre!”
“Quem tem medo é quem recusa a morte!”
E você? Como encara a morte?
Pessoalmente, durante a leitura do livro e após a sua finalização, fui-me interrogando sobre algumas questões: Como eu própria reagiria perante o diagnóstico de uma doença incurável? Sentiria o momento da partida? Sentir-me-ia preparada para morrer? Como ia conseguir suportar a dor dos meus pais, irmãos ou todos aqueles que iam sofrer com a minha perda? São,de facto, questões que, por mais que tente encontrar respostas, apenas as saberei no caso de experimentar tal situação. Com certeza que teria muitas reações semelhantes a estes doentes, ia querer expressar a minha revolta e, certamente, querer alguém ao meu lado que me ouvisse e não abafasse o meu sofrimento. Alguém que me desse a mão, que chorasse a meu lado, que me encarasse da mesma forma, como uma pessoa normal, e não como uma pessoa doente e debilitada. Talvez continuasse a viver com uma esperança fictícia, e continuasse a projetar planos futuros. Vivia tudo ainda mais intensamente, com o desejo de dar e receber o amor que procuro não só nos outros, mas dentro de mim. Não gosto de pensar muito nessa possibilidade, obviamente, mas creio que é positivo refletir sobre uma realidade possível, a realidade de tantas outras pessoas que, infelizmente, também não esperavam que tal lhes acontecesse.
Uma interrogação que a autora faz, que constitui a sua íntima preocupação, também começa a ser alvo de meditação pessoal: “O sofrimento terá um sentido?”. Deve-se acabar com a pergunta “porquê” e interrogarmo-nos do “para quê”, sobre a finalidade do sofrimento, pois parece ser a única maneira de lhe dar um sentido. Acabamos por encontrar as respostas mais surpreendentes, vindas do mais íntimo de nós.
O que acontece quando se morre?
Numa passagem do livro a autora refere que a sua avó, quando morreu, pronunciou a sua última frase dizendo: “Ah! A luz! Sempre era verdade!”. Também há uma parte do livro em que um doente, Dimitri, descreve o que aconteceu durante uma anterior intervenção cirúrgica ao coração, onde, sob a anestesia, conheceu um dos fenómenos de descorporalização: “sentindo-se subitamente consciente, a um nível acima do seu corpo, viu o seu invólucro carnal rodeado por médicos na mesa de operações e ouviu o cirurgião dizer num tom de desprezo: «Tirem-me isto da frente. Não quero que ele morra aqui».”
Quase todos de nós já ouvimos falar de tais acontecimentos pós-morte, como ver a tal luz ao fundo do túnel ou o próprio corpo. Nunca me interroguei sobre a veracidade disso, pois, sinceramente, sempre preferi não especular muito sobre uma matéria que considerava fazer parte do campo de um desconhecido. A maior parte de nós tem medo do desconhecido, não sou exceção, pois todos procuramos dar respostas às interrogações que nos afligem e não encontramos respostas suficientemente esclarecedoras. Porém, os seres humanos, principalmente filósofos, interrogam-se, desde sempre, sobre estas questões e elaboram teorias em torno delas. Atualmente, a sociedade recorre à Ciência como meio de excelência, desenvolvendo e procurando métodos científicos cada vez mais rigorosos e capazes de dar resposta a todas as interrogações, mesmo as questões mais profundas do ser humano.
Assim sendo, imbuí-me na pesquisa sobre a existência de alguma evidência científica sobre esta matéria.
Artigos científicos sobre EQM (experiência de quase-morte):
1. “O que acontece quando morremos: um estudo sobre a vida após a morte” - Parnia, médico inglês, procura estudar pessoas que vivenciaram a Experiência de Quase Morte (EQM): selecionou aqueles que passaram por uma paragem cardíaca, viram a luz ao fim do túnel, vivenciaram a experiência fora do corpo e descreveram os procedimentos médicos que foram realizados neles durante o acontecimento. Acaba por ser inundado por questões do tipo: “Como é que estas pessoas possuem memória tão límpida e viva de um momento em que os seus corações pararam de bater, deixando os seus cérebros, considerados a fonte dos pensamentos e memórias, sem fluxo sanguíneo, sem aquilo que lhes permite funcionar? Seria somente o cérebro a origem da consciência? Seria ele o total responsável por armazenar e interpretar informações e sensações? Continuariam a mente humana e a consciência funcionando mesmo após a morte clínica?”. Parnia explicita que o papel da ciência não é somente duvidar e rotular como impossível, mas sim de ir à busca de evidências. De forma que se ainda não somos capazes de provar, não significa que o facto seja improvável.
2. Near death experiences in cardiac arrest: visions of a dying brain or visions of a new science of consciousness - Sam Parnia juntamente com Peter Fenwick, neuropsiquiatra e neuropsicólogo, explicam como o cérebro se comporta durante uma paragem cardíaca. No fim do artigo, os cientistas exploram a contribuição que esse tipo de estudo pode trazer para uma melhor compreensão da consciência humana.
3. Experiências de quase-morte: implicações clínicas – Bruce Greyson, professor psiquiatra da Universidade de Virginia, faz uma revisão das explicações oferecidas sobre a origem das EQMs. Greyson aponta ainda as falhas das teorias que tentam colocar no cérebro a causa do fenómeno. A parte aqui questionada aparece na secção final do artigo, que se intitula por “Experiências de quase-morte e consciência”. Aqui o autor refere que “Algumas das características fenomenológicas das EQMs são difíceis de ser explicadas nos termos da nossa compreensão atual sobre os processos psicológicos ou fisiológicos”. Existem, de facto, alguns exemplos de relatos de pacientes que a ciência não consegue explicar (ex: observação dos seus corpos de pontos diferentes no espaço e descrição precisa do que estava acontecer em torno deles, quando estavam ostensivamente inconscientes; perceberem eventos posteriormente confirmados que ocorreram a uma distância que não poderia ser alcançada pelos seus órgãos dos sentidos, incluindo indivíduos cegos que descreveram perceções visuais exatas durante a sua EQM).
Os relatos de pessoas que passam por EQM confirmam, portanto, a existência de conteúdos comuns: visão de uma luz, do próprio corpo, o encontro com parentes, amigos e pessoas falecidas. Porém, a ciência ainda não conseguiu tecer uma explicação precisa sobre este fenómeno.
E você, como acha que é a morte?
Alguns doentes falam de reencarnação e de formas de espiritualidade com Marie. Uma delas é Danièle. Ela não acredita num “Deus de justiça, nem num Deus de amor. É demasiado humano para ser verdadeiro. Que falta de imaginação!". Porém, isso não leva Danièle "a crer que sejamos apenas reduzíveis a um feixe de átomos. O que implica que existe algo além da matéria, chamemos-lhe alma ou espírito ou consciência, o que se quiser. Eu creio nessa eternidade. Reincarnação ou acesso a um outro nível totalmente diferente… Quem morrer, verá!” (p.136).
E você, acredita na reencarnação?
Em seguida, resolvi elaborar tópicos sobre temas que são abordados pela psicóloga Marie de Hennezel, ao longo do livro, ainda que de forma muito súbtil. Temas que podem ser alvo de maior exploração, e que ressaltei pela pertinência que apresentam.
Trabalho do luto
Muitos que estão de luto recalcam a sua dor, contêm a pena e “metem tudo dentro deles”, porque na nossa sociedade não há lugar para os que choram a perda de um ser amado. Acham anormal a depressão das pessoas enlutadas, e recomendam-lhes o médico para que lhes receite anti-depressivos. Tentam distrair, fazer mudar de ideias, ou seja, mostram que têm medo do desgosto da pessoa enlutada. É preciso alguém para ajudar a esvaziar a dor. É bom chorar na presença dos amigos. Faz bem falar das nossas mágoas, dos nossos remorsos e, se for o caso, da nossa revolta. Nisto consiste o trabalho do luto que permite um “trabalho interior de afastamento que fará que, um dia, acordemos libertos, plenos de energia para a vida.” (p.87).
A dor dos outros
Muitos doentes em estado terminal sentem algum tipo de culpabilidade pelo facto de terem que morrer, pelo desgosto que vão causar ao outro e que se torna, por vezes, insuportável. Segundo a psicóloga, esta forma de sofrimento é “causada pela perceção da pena dos outros” e este sofrimento “pode ser aliviado um pouco quando se consegue falar da própria morte com os próximos, quando se pode chorar com eles.” (p.107).
Numa passagem do livro, Danièle diz a seguinte frase: “Não ignoro nada desta violência que o meu aspeto exterior manifesta: violência do medo, da revolta, ou simplesmente do sofrimento.” (p.134). Apercebe-se da angústia dos que a rodeiam, mas, paradoxalmente, fá-la sentir menos só.
Porque Marie foi trabalhar para um sítio como aquele?
Ela afirma que desde a infância dois impulsos a levaram até lá: um deles, mais espiritual, nasceu no meio da angústia familiar em face da morte; o outro é a sua curiosidade infinita em relação à alma humana. As suas idas ao cemitério com a avó, enquanto criança, levaram-na, o mais naturalmente possível, a meditar sobre a vida e a morte.
Forma de tratamento aos doentes daquele hospital
Esta informação é útil a todos os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, psicólogos, principalmente aqueles que lidam com pessoas muito debilitadas, com doenças que fazem frente a todos os tratamentos médicos possíveis. A minha experiência enquanto psicóloga estagiária no IPO-Porto levou-me a contactar com a unidade de cuidados paliativos daquele local. Infelizmente, na altura, não tinha um conhecimento tão aprofundado sobre esta matéria, nem me foi possível acompanhar, autonomamente, pacientes em fase terminal. Considero que tal assistência constitui um verdadeiro desafio que, além das competências profissionais, apela a um conjunto de competências humanas, tal como refere a autora:
“A assistência é uma missão de compromisso e de amor. Uma missão eminentemente humana. Não nos podemos entrincheirar na bata profissional, quer sejamos médicos, enfermeiros ou psicólogos. (…) Esgotamo-nos menos, creio eu, se nos entregarmos a fundo, se soubermos recuperar forças por outros meios, do que protegermo-nos por trás de uma atitude defensiva.” (p.126).
A Unidade de Cuidados Paliativos onde Marie trabalha é descrita como um “(…) lugar onde a morte não é escondida nem dramatizada, mas assistida, este lugar não é uma antecâmara da morte, mas sim um sítio de vida.” (p.94).
Para que seja mais precisa (exemplo prático), deixo uma passagem do livro, onde a autora descreve o banho dado a Bernard (doente a morrer de sida), por três mulheres amantes ocupadas na tarefa (enfermeiras) da seguinte forma:
“Porque existe uma maneira de «cuidar» do corpo que faz que se esqueça precisamente que se trata de um corpo arruinado, pois é a pessoa, na sua integridade, que se envolve de ternura. Existe uma maneira de cuidar de um moribundo que lhe permite sentir-se uma alma viva até ao fim.” (p.16).
O dar banho a um doente torna-se um ritual de bem-estar: “A água permite o contacto, o encontro, é quase sempre uma alegria. Temos tempo disponível, falamos, cantamos.” (p.119).
Há um episódio em que a própria psicóloga limpa um doente, Dimitri, e relata: “ao escolher limpá-lo com carinho, fazendo-lhe sentir que, mesmo conspurcado, permanece a meus olhos uma pessoa digna dos cuidados mais atentos, redimi sem dúvida esse sentimento de não passar de um despojo, de uma coisa um tanto suja. Este reconhecimento da sua humanidade profunda veio cicatrizar a ferida infligida pelo desprezo.” (p.114).
Marie fala da forma como tratam Patrick: “O facto de lhe cuidarem do corpo liberta-lhe o espírito.” (p.49). O paciente diz mesmo: “Se durante cada mudança de pensos eu pudesse ser mimado assim, seria um sonho. Tu és doce, cheiras bem, e eu esqueço tudo.” (p.51). “Não são pernas, o que ela (enfermeira) trata, é uma pessoa.”
As enfermeiras sabem sorrir!
Estar ao pé de um doente que dorme ou se encontra em coma, silenciosamente, oferecendo uma simples presença, uma vigília atenta, como a das mães que velam os filhos adormecidos. Este tipo de acompanhamento foi descrito pelo psicanalista W. F. Bion, que lhe chama de “sonho maternante”. Estar ao pé de um doente sem fazer nada pode levar a que o profissional se sinta inútel e incómodo, mas também faz parte do tratamento.
No Hospital Notre-Dame-du-Bom-Secours, “unidade de cuidados sida” procura-se exercer uma medicina humana e contribuir para a humanização do hospital: “aliar à competência técnica a competência humana, tratar da pessoa antes de tratar os sintomas e acompanhar os doentes até ao fim, com respeito pela sua dignidade. (…) Um serviço onde o paciente não se sente como um número entre os outros, mas muito simplesmente alguém. Um serviço no qual existe a consciência de que é toda uma vida que está enclausurada num quarto, e não apenas um corpo doente.” (p.48): Exemplo de um jovem com uma infeção intestinal, que pediu para ir para aquele serviço por razões precisas de humanidade, porque já não aguentava mais ser um número de quarto, ou estar reduzido a uma patologia: “O citoplasmático do 12!”.
Haptonomia - aproximação tátil afetiva
A psicóloga instituiu, no serviço do Hospital da Cidade Universitária, reuniões sobre haptonomia (aproximação tátil afetiva) – fundador Frans Veldman. Pode parecer estranho ter uma formação para desenvolver as faculdades humanas de contacto, porém, infelizmente, “o mundo em que todos crescemos e continuamos a evoluir é um mundo que não favorece o espontâneo contacto afetivo entre os humanos. Tocamos nos outros, é certo, mas com uma intenção erótica. Ou então num contexto objetivante, como no universo médico, onde são, o mais frequentemente, “corpos-objetos” que manipulamos. Esquecemos o que pode sentir “a pessoa”.” (p.52). Os clínicos são chamados a atenção para a mímica dos pacientes, linguagem da sua “corporalidade”, prestar a qualidade de uma presença e delicadeza de uma atenção.
“o simples facto de se ser tocado com respeito e ternura desencadeia, por vezes, fortes reações emocionais. É que a pele possui uma memória, e acontece que um contacto bom e confortante faz acordar uma pena, uma carência muito antigas.” (p.140).
Exemplo de atuação, no caso de Patrick:
“A equipa pode organizar-se para que duas pessoas venham juntas fazer um tratamento que se arrisca a ser doloroso. Uma delas pode, nesse caso, oferecer simplesmente a sua presença, calorosa e atenta, enquanto a outra, também junto dela, pode realizar o tratamento necessário com toda a competência requerida. Quando três pessoas se encontram assim reunidas, com o desejo de se apoiarem na presença das outras duas para enfrentar um momento difícil, cria-se um “testar conjunto” com efeitos realmente milagrosos.” (p.54).
Papel da Psicóloga
Marie dá exemplos de como atua perante os doentes, e muitas vezes justifica tal procedimento. Decidi registar algumas passagens:
“Tenho bastante tempo para lhe consagrar. Se quiser aproveitar para me falar de si, fico aqui a seu lado.” (p.66) – Oferecer uma escuta e um tempo disponíveis produz quase sempre um efeito calmante.
“Sou Marie, a psicóloga do serviço. – Gosto de começar a apresentação pelo meu nome próprio. É uma maneira de dizer que sou uma pessoa antes de ser uma técnica de atendimento dos outros.” (p.67).
Sempre que tem oportunidade aborda com os doentes a forma como estes desejam morrer e ser assistidos. “Muitos doentes com quem pude abordar bastante a tempo estas questões sentiram-se aliviados por poderem exprimir os seus desejos.” (p.131).
A psicóloga põe em prática uma prática tibetana, muito antiga, da compaixão: “Toglen (em tibetano significa dar e receber) consiste em receber o sofrimento, a angústia de outrem, para em seguida oferecer, por sua vez, toda a confiança e a serenidade de que podemos dispor. Trata-se, nesta participação tão simples do sofrimento de outrem, de estar com ele, de o não deixar só.” (p.132).
“Receber a visita de um psicólogo suscita reações diversas. Por vezes a palavra mete medo. Revela ao espírito de um certo número de pessoas a marca da patologia mental, da loucura. Por vezes imagina-se que o psicólogo lê os pensamentos ou que veio para esquadrinhar os segredos da vida. E desconfia-se dele. Aconteceu-me já ser rejeitada devidos às minhas funções. Nunca me entristeci demasiado, sei que se trata de uma questão de cultura. Mas sei também, por ter aprendido ao longo destes anos todos a ouvir, que o importante é estabelecer contacto. Um contacto de pessoa a pessoa. Uma vez estabelecida a confiança, e com a corrente a passar, é raro que essa oportunidade de poder falar de si próprio, dos seus medos, dos seus sentimentos, não seja bem acolhida.” (p.68).
Pessoalmente, também já me deparei com reações diversas, quer no período de estágio com alguns doentes, quer em situações do quotidiano quando evoco a minha formação. Alguns doentes quando eram reencaminhados para o serviço de psicologia por outros profissionais, vinham à consulta com o tal medo sobre a loucura ou patologia mental ("Dr.ª, acha mesmo que eu estou maluca?"). Tenta-se comunicar a forma de atuação de um profissional de psicologia, desmistificando algumas destas conceções. Porém, tal como afirma Marie, é uma questão de cultura. No quotidiano, ouvem-se, realmente, coisas do género: "sabes ler os meus pensamentos" ou "vais delinear um perfil da minha personalidade". Muitas pessoas continuam a acreditar que temos capacidades sobrenaturais. Sublinho, um psicólogo estuda o comportamento e a mente humana, e a Psicologia trata-se de uma CIÊNCIA!
Dizer sempre aos doentes!
Esta Unidade de Cuidados Paliativos permite dar aos doentes “a segurança de serem assistidos até ao fim, de serem aliviados no caso de dor física e de conservar relações naturais e vivas com os outros. É sobretudo deste último apoio que são privados os pacientes que são mantidos na conspiração do silêncio.” (p.36)
Marcelle pede para que lhe digam a verdade, se vai morrer, ao qual a enfermeira responde “Estaremos aqui para acompanhá-la até ao fim!”. “Nada de palavras de falsa consolação, nada de evasivas, nenhuma agitação.” (p.32)
“A pior solidão de um moribundo é a de não poder anunciar aos seus próximos que vai morrer.” (p.34).
“A pessoa que sente a morte aproximar-se não tem tempo a perder. Compromete-se plenamente e necessita de uma reciprocidade.” (p.127).
O tempo da vida
A maior parte dos doentes, ou seus familiares, questionam, naturalmente, os médicos, sobre o tempo de vida que lhes resta. O que o médico transmite é: “Aqui ninguém se autoriza a fazer um prognóstico no tempo. O tempo que resta a uma pessoa “condenada pela medicina” pertence-lhe. Podemos dizer que se trata de um segredo que ninguém detém, a não ser a pessoa em questão, no mais íntimo de si.” (p.23).
Por outro lado, a maior parte dos doentes pedem, na fase inicial que entram na unidade dos cuidados paliativos, para morrerem, para que lhe encurtem o tempo de vida, visto saberem que o que lhes espera é, morrer.
Exemplos: Dominique : “Então, vão deixar-me neste estado? – geme ela – É insuportável! Esta espera que nunca mais acaba. Quanto tempo vai isto durar?”. Jacques: “Sei muito bem onde estou, sei que me vou degradar cada dia um pouco mais, não vejo razão para esperar pelo que é inevitável!” (p.43). Marie-France: “É gentil visitar um monstro como eu! Vim acabar os meus dias aqui, e só desejo uma coisa: morrer! E o mais depressa possível!” “Mas o médico não quer saber disso, diz-me que é preciso esperar que a morte chegue à sua hora. Não vou ficar à espera anos e anos.” (p.56).
Os médicos deste hospital, tal como tantos outros que lidam com doentes, deparam-se com um pedido, por vezes uma súplica, que não podem satisfazer: a eutanásia.
Como reagir perante tal pedido?
Segundo Marie, “os doentes têm necessidade de exprimir o seu desejo de morrer, e de partilhar com alguém a emoção que neles provoca a aceitação desse desejo. Mas não nos enganemos: acolher o desejo de morte de uma pessoa não significa que nos comprometemos a executá-lo. É sem dúvida por os médicos recearem que tal aceitação não os conduza a um ato que não reconhecem ter o direito de praticar que vão ao extremo de repudiar a própria ideia de que uma pessoa deseja morrer.” (p.57).
“O espaço-tempo da morte é, para os que querem penetrar nele e ver além do horror, uma ocasião inesquecível de intimidade”. (p.173).
“Descobrimos sempre tarde demais que o maravilhoso reside no instante.” (p.99).
Diálogo com a Morte (Marie de Hennezel, 2001)
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